CONHEÇAM A PRIMEIRA SÉRIE DO FLASH

Depois do enorme sucesso obtido com o longa “Batman”, lançado em 1989 (o qual já falamos aqui) e dirigido por Tim Burton, a Warner Brothers estava interessada em desenvolver diferentes personagens da DC, no intuito de manter o interesse do público por filmes e séries de Super-Heróis que a produção do “Batman” havia despertado.

Durante este tempo, a dupla de escritores Danny Bilson e Paul De Meo estavam produzindo uma série chamada “Unlimited Powers”, que girava em torno de um Flash mais envelhecido comandando um grupo de jovens Super-Heróis, que estariam travando uma guerra contra supervilões que controlavam secretamente o mundo, a CBS Entertainment não aprovou essa ideia, porém ficou tão impressionada com o roteiro que em janeiro de 1990 o então presidente da CBS Entertainment, Jeff Sagansky, deu carta branca para que a dupla Danny Bilson e Paul De Meo desenvolve-se uma série de TV centrada apenas no Flash, que nessa época estava preste a celebrar o 50ª aniversário de criação e essa série faria parte das comemorações dessa data.

Danny Bilson e Paul De Meo

As filmagens do episódio piloto levaram seis semanas, de maio a junho de 1990. Já os efeitos finais foram concluídos uma semana antes do episódio ir ao ar, em setembro de 1990. O roteirista Bilson declarou que cerca de 125 efeitos especiais foram feitos em grande escala. O piloto de cerca de 02 horas custou cerca de 06 milhões de dólares, e cada episódio de The Flash custava 1,6 milhão de dólares para ser produzido, esse piloto se mostrou um sucesso absoluto de crítica e público.
 A trama acompanhava as aventuras de Barry Allen, vivido por John Wesley Shipp, que trabalha como policial forense de Central City, que após ser atingido por vários produtos químicos eletrizados por um raio ganhou supervelocidade que usava para combater o crime. Diferenciando da série produzida em 2014, aqui o Barry assume a identidade do Velocista Escarlate para vingar a morte de seu irmão, Jay Allen, que era policial.
Cerca de sessenta atores fizeram testes para o papel de Barry Allen/Flash, originalmente De Meo e Bilson queriam o ator Richard Burgi para o papel, na época correu um boato de que um dos nomes cotados teria sido o do Jack Coleman, que teria recusou pelo fato de que não queria interpretar um Super-Herói e, principalmente, usar uma fantasia.

Para a emissora a escolha seria do ator de novela John Wesley Shipp, porém ele estava relutante em assumir o papel. Como não tinha familiaridade com HQs, Shipp não tinha a menor ideia de quem era o personagem, ele chegou a perguntar se era o clássico herói de ficção científica pulo, o Flash Gordon. Mas o principal motivo de sua apreensão era a crença comum de que filmes ou séries de Super-Heróis eram uma completa piada.

John Wesley Shipp nos anos ’90

Como muitas pessoas na época, Shipp associava produções de Super-Heróis com a série de TV camp do “Batman”, estrelada pelo Adam West, no entanto essa impressão mudou quando a lendária diretora de elenco April Webster conversou com ele sobre como seria a visão de De Meo e Bilson para a série, deixando ela mais séria, como os filmes do Superman do Richard Donner e o Batman do Tim Burton. Em seguida, ela disse para o Shipp apenas ler o roteiro e depois voltar com sua opinião.

Shipp leu e ficou impressionado, ele falou que alguns de seus aspectos favoritos do episódio piloto eram a dinâmica entre o Barry e sua familia. Ele ficou intrigado com o conceito do desejo de Barry de abrir mão de seus poderes e ser normal novamente, apenas para acabar usando-os para vingar o assassinato de seu irmão, o policial Jay Allen vivido pelo ator Tim Thomerson, e tornar o a cidade um lugar melhor. John disse que era algo que ele nunca esperava ler em um programa de TV de Super-Heróis.

 Falando sobre o uniforme do Flash, foram confeccionados quatro trajes, que custaram um total de 100 mil dólares. O roteirista De Meo declarou uma vez que o John Wesley Shipp tinha que ter todo o seu corpo engessado. O uniforme era feito de látex. Foi um processo e tanto para conseguir”, já o Bilson acrescentou que o processo foi fundamental. Você não pode, depois do Batman, ter um cara correndo de meia-calça ou lycra”.

O design do uniforme ficou por conta do Dave Stevens, que removeu as botas amarelas, escureceu a cor vermelha, a vermelhidão, mudou os detalhes amarelos para dourado e remodelou as asas das têmporas para um modelo mais voltado a Art Déco.

Os trajes foram construídos Stan Winston Studios e deve a supervisão de Robert Short, Robert foi o responsável pelo design do icônico traje utilizado pelo Michael Keaton no agora inovador “Batman” de 1989. Ter o nome do Short foi uma grande sorte, já que a CBS Entertainment não queria ver o Wesley Shipp correndo no clássico uniforme que o Flash utiliza nos quadrinhos. Eles queriam um traje em um estilo mais realista. A certa altura Bilson e De Meo disseram-lhes:

“Por que não chamamos o cara que fez o figurino no filme de maior bilheteria da última década, acho que podemos confiar nele”.

Uniforme utilizado em The Flash

Segundo o Short os trajes de látex foram especialmente tratados para disfarçar sua superfície de borracha, fazendo com que parecessem unidades básicas de alongamento, Shipp usou uma roupa íntima refrigerada a água para combater o tremendo calor que o uniforme provocava, já a personagem Christina R. “Tina” McGee, usou roupas pouco agressivas, embora ela seja uma mulher de carreira agressiva, com saias longas cônicas retrô dos anos 1930 e 40, calças e coletes.

Shipp declarou que era uma verdadeira luta para usar o uniforme. Estava sempre quente dentro daquela armadura de látex e Shipp suava tanto que, no final do dia, ao tirarem suas luvas elas estavam encharcadas de suor até o pulso, era como tocar uma esponja molhada.

Era tão quente que colocaram um colete com tubulação no traje para que pudessem bombear água gelada que circularia seu corpo para mantê-lo frio. Anos mais tarde, Shipp disse que, se pudesse ter poder sobre a série, teria feito com que o Flash mal aparecesse, para ele um personagem tão rápido assim só seria visto em relances, com pequenos close-up, onde você só veria pedaços de seu uniforme para poder criar um efeito mais dramático no momento onde ele aparece totalmente. Ele também disse que também teria feito Flash não falar para criar uma atmosfera Intimidatória em torno do personagem.

Falando agora do visual de “The Flash”, que sofreu grande influência do longa do Cavaleiro das Trevas de 1989 foi uma grande influência na série, com isso Central City, a cidade onde o Flash atua é, basicamente, uma versão mais simplificada da Gotham City gótica de Burton, algo que é amplificado pelas diversas tomadas noturnas repletas de fumaça, também percebemos detalhes vindos diretamente de alguns desenhos animados do Superman produzidos por Max Fleischer. Os showrunners queriam misturar uma estética moderna com a dos anos 1940, e na série você encontra os carros dos anos 1940 e 50 juntamente com computadores e outros gadgets tecnológicos.

Departamento de Polícia de Central City

Sob certos aspectos, sobretudo em relação ao grau de violência elevado para uma obra destinada à TV aberta americana, a série evoca um clima também semelhante ao visto no longa “Darkman”, do diretor Sam Raimi e lançado nos cinemas no mesmo ano.

 Para ajudar o Barry em suas aventuras, os roteiristas trouxeram das HQs do Flash (versão Wally West) a cientista do STAR Labs Christina “Tina” McGee, que foi interpretada pela bela e talentosa Amanda Pays, que além de ter confeccionado o uniforme do Flash, ainda ajudou ele a controlar sua supervelocidade.

Pays era bem conhecida na época por ter participado, em 1987, de uma série de ficção científica chamado “Max Headroom”, essa experiência dela nessa série ajudou bastante a Amanda em “The Flash”, pois ela estava acostumada com termos científicos, fazendo com que tais termos soassem convincentes na voz dela.

Amanda Pays como Tina McGee

Inicialmente um interesse amoroso entre a Pays e o Shipp estava fora dos planos, Danny e Paul trouxeram a personagem Iris West para a série, interpretada pela atriz Paula Marshall, no entanto ele perceberam que não conseguiriam sustentar dois interesses amorosos na série.

“Queríamos que ele estivesse solteiro para que pudesse namorar alguém por um ou dois episódios, mas também ter um interesse amoroso principal também. Não poderíamos fazer isso se tivéssemos Iris no programa”, declarou Danny e Paul.

 Imediatamente “The Flash” caiu nas graças do público, de acordo com Bilson e De Meo a razão desse sucesso instantâneo foi que eles respeitaram o material de origem.

“Não fazemos nada diferente além de apenas refletir o que estava nos quadrinhos na época”, declararam.

Efeito da supervelocidade em The Flash

Uma das coisas que eu curtia era caçar os pequenos “Easter-Eggs” que havia nos episódios, como o fato da sede do STAR Labs está situada na 50 Garrick Ave, que era um pequeno aceno para o Jay Garrick, o primeiro velocista a usar o nome Flash, publicado na Era de Ouro dos quadrinhos.

Em um determinado ponto, a cientista McGee fala sobre um médico chamado Carter Hall, que nos quadrinhos é a identidade do Super-Herói conhecido como Gavião Negro (Hawkman). Também tivemos participações especiais, entre elas a do ator Robert Shayne, que participou do 6ª episódio intitulado “Sins of the Father”. Shayne participou da série “The Adventures of Superman”, da década de 1950, onde interpretou o Inspetor Henderson.

 Assim como em outras produções de TV, “The Flash” sofreu interferências da CBS Entertainment que causou dores de cabeça para De Meo e Bilson, a principal foi que a emissora não queria que nenhum supervilão das HQs aparecessem no programa.

O Sombra

Para os executivos, o Flash deveria enfrentar vilões da vida real, como, ladrões de bancos, sequestradores, mafiosos. Assim, os roteiristas tiveram que ser inteligentes para poderem incorporar elementos de ficção científica nos episódios. No entanto as coisas começaram a mudar quando eles produziram o 9ª episódio intitulado “Ghost in the Machine”, onde o Flash, além de enfrentar um supervilão chamado “The Ghost” (O Fantasma), interpretado pelo ator Anthony Starke (sério esse é o nome dele) ainda contava com a ajuda de um Super-Herói do passado de Central City, chamado “O Sombra” (Nightshade), vivido pelo ator Jason Bernard que estava a anos aposentado. Foi um episódio que introduziu a ideia de que Central City tinha um legado de Super-Heróis.

Os fãs de quadrinhos vão perceber que o Sombra parecia um amálgama de dois membros da Sociedade da Justiça da América, o Dr. Meia-Noite, um cirurgião que atua como vigilante à noite e o Sandman (não confundia com o personagem criado pelo Neil Gaiman), cuja identidade era Wesley Dodds. Dodds utilizava um chapéu fedora e uma arma que disparava gás sonífero, visual semelhante ao usado pelo Sombra, outro ponto que corrobora essas semelhanças é o período em que ele atuou em Central City, a década de 1950, mesmo período de tempo em que a SJA estava em ativa nos quadrinhos. John Wesley Shipp chegou a declarar que se houvesse uma segunda temporada o Sombra teria se tornado um personagem recorrente, continuando a ser o mentor do Barry nessa vida de Super-Herói.

Foi com esse episódio que as coisas começaram a mudar, finalmente a CBS Entertainment descobriu que colocar um Super-Herói enfrentando inimigos mais poderosos que simplesmente ladrões de bancos, causaria um significativo aumento na audiência. Então, De Meo e Bilson usaram isso para pressionar a emissora por mais episódios relacionados ao mundo das HQs. Foi a partir desse ponto que personagens como Capitão Frio, Mestre dos Espelhos e o Trapaceiro, SuperVilões dos quadrinhos do Flash, apareceram na série.

Capitão Frio interpretado por Michael Campbell e o Mestre dos Espelhos vivido pelo ator David Cassidy

Para interpretar o assassino de aluguel Leonard Wynters Snart foi chamado o ator Michael Campbell. Na trama o Snart rouba uma arma criogênica e assume a identidade de Capitão Frio, logo depois ele é contratado por um mafioso para matar seus rivais e assumir o submundo de Central City. Ele e o Flash entram em confronto várias vezes ao longo do episódio com o Velocidade Escarlate escapando por pouco da morte em todos os encontros. O vilão é derrotado graças a inteligência do Flash.

 O próximo Supervilão das HQs que vemos na série é o Mestre dos Espelhos, cuja identidade é Sam Scudder, interpretado pelo ator David Cassidy. Ele era um ladrão que roubou uma tecnologia de projeção de imagens 3D altamente avançada, o criminoso monta uma grande coleção de hologramas para intimidação e chantagem, ele também construiu um projetor em um dispositivo de pulso que lhe permitia ocultar sua localização real e parecer estar em outro lugar. Cabe ao Flash deter o vilão.

Porém de todos esses o que ficou mais marcante foi a participação do Trapaceiro (The Trickster), interpretado pelo Mark Hamill. Mark contou que foi ele quem se aproximou de Paul De Meo e Danny Bilson e pediu para interpretar o Trapaceiro, já que era um fã da série, além de colecionar quadrinhos ao longo da vida.

James Montgomery Jesse era um psicopata e assassino com múltiplas personalidades, além de ser um vigarista e procurado por assassinato em seis estados, fica obcecado pela Megan Lockhart, que estava investigando seus crimes e a sequestra para ser sua parceira no crime, porém ele tem seus planos frustrados pelo Flash. Acreditando que eles estão romanticamente envolvidos, Jesse assume a identidade de Trapaceiro e tenta matar o Flash, com o intuito de livrar ela de seu “feitiço maligno”, no entanto ele falha e é preso.

Flash e o Trapaceiro

Enquanto aguarda o veredito, o Trapaceiro é libertado pela Zoey Clark, que acaba se tornando sua parceira no crime. Como vingança, o Trapaceiro captura o Flash e faz uma lavagem cerebral nele, fazendo com que o Flash vire seu aliado. Por fim o Flash supera sua programação e vira o jogo, enviado o Trapaceiro para uma cela acolchoada. Curiosidade sobre esse episódio, foi nele que o Hamill criou a sua voz característica de Coringa. Assistindo o episódio no áudio original, você poderá ouvir uma versão beta da voz do Coringa.
Mesmo que a audiência tenha começado a melhorar, os problemas não pararam de surgir na série, “The Flash” era um dos programas de TV mais caros da época, com um episódio médio custando incríveis 1,6 milhão de dólares, o que no inicio da década de 1990 era um valor enorme para uma série.

The Flash

Assim, quando eles começaram a ser interrompidos por esportes, a guerra do golfo e, principalmente, quando a Fox mudou o horário de “The Simpsons” para as noites de quinta, o mesmo horário do Flash na CBS Entertainment, a série com a família amarela mais famosa da América estava em sua 2ª temporada e estava se tornando um fenômeno sem precedentes, com isso a audiência do Flash caiu rapidamente, o que fez com que a emissora muda-se o horário do Corretor Escarlate para as noites de sábado, o que afundou ainda mais a audiência.

Assim, em 18 de maio de 1991, foi ao ar o último episódio de The Flash, deixando os fãs desapontados, principalmente quando eles descobriram que na segunda temporada teríamos o acréscimo de mais Supervilões das HQs, acabando por formar a famosa Galeria de Vilões do Flash.

 Com o fim de The Flash parecia que nunca mais veríamos o Velocista Escarlate na TV, porém mais de duas décadas depois, mas precisamente em 2014, tivemos o retorno de Barry Allen a uma série de TV, desta vez produzida pela CW, a série contou com o ator Grant Gustin como Barry Allen/Flash.

A melhor parte desta nova encarnação do personagem foi que John Wesley Shipp foi escalado como o pai de Barry, que estava preso injustamente, acusado de matar a esposa. Os fãs ainda nem estavam acostumado com isso, quando a coisa ficou ainda melhor, já que, com o advento do conceito de Multiverso, tivemos o Wesley Shipp interpretando um personagem icônico dos quadrinhos, o Jay Garrick, que nesse Multiverso habitava a Terra-03, sua última aparição foi depois do crossover “Crisis on Infinite Earths”, onde Jay passou a morar na Terra-02, a dimensão da Super-Heróina Stargirl.

John Wesley Shipp interpretando Henry Allen, Jay Garrick e Barry Allen na série “The Flash” do século XXI

Em 2018 tivemos o crossover “Elseworlds”, onde o ator teve finalmente a chance de voltar ao papel de Barry Allen dos anos ’90, confirmando a teoria dos fãs de que a série clássica fazia parte do Multiverso das séries da CW.

Um ano depois tivemos o crossover adaptando a Grande Crise dos quadrinhos, onde vimos a versão do Flash de 1990 se sacrificando para salvar o que restava do Multiverso, exatamente como sua versão fez na versão quadrinistica da Crise. Nesse momento descobrimos que nesse espaço de tempo ele e a Tina haviam se casado, finalmente colocando um ponto final no dilema dos fãs, de se eles ficariam ou não juntos.

Flash se sacrificando no crossover “Crisis on Infinite Earths”

Ainda lembro da emoção que senti ao ouvir o clássico tema do flash, composto pelo Danny Elfman, acompanhado pelos últimos pensamentos do Barry sobre a Tina, enquanto ele se entregava a Força da Aceleração para deter o Antimonitor, para nunca mais ser visto.

Você pode gostar...