REVIEW DE SUPERMAN: SPEEDING BULLETS

Em 1993 um dos principais atrativos das publicações da DC aqui no Brasil era as histórias sob o selo “Túnel do Tempo”, nos Estados Unidos chamado de “Elseworlds”, composto por universos paralelos criados em função de nos mostrar novos horizontes, e no encanto que isso pode oferecer aos fãs.

Foi nesse selo que surge a HQ Superman: Speeding Bullets (Super-Homem: Morcego de Aço), com roteiro de J.M. DeMatteis e arte de Eduardo Barreto. A trama de DeMatteis causa uma reviravolta nas histórias de origens do Superman e do Batman, o roteirista nos trás um amálgama que mistura as origens dos dois maiores pilares do Universo DC, o que nos leva a fazer a seguinte pergunta:

“E se o Batman tivesse os poderes do Superman?”

O pequeno Kal-El é encontrado e adotado pelo casal Wayne

Afinal poder voar, levantar alguns prédios e disparar raios de calor dos olhos poderia render ótimos momentos para o Cavaleiro das Trevas.

O roteirista DeMatteis nos mostra uma narrativa, muito bem escrita em terceira pessoa, na visão de Lois Lane, ainda que quem está lendo só irá perceber isso na metade dos eventos, uma das características do DeMatteis é fazer um certo excesso de recordatórios e diálogos, porém aqui isso não torna a leitura enfadonha, arrastada.

A história possui uma fluidez muito interessante, aqui vemos que o surgimento do novo Super-Herói, os negócios dos Wayne e o começo do relacionamento com Lois Lane funcionam muito.

A morte dos Waynes e descoberta dos poderes do Bruce

Falando de Bruce e Lois, podemos ver que o desenvolvimento da relação dos é realmente impressionante. Se você está acostumado a ler quadrinhos do selo Túnel do Tempo (Elseworlds) da DC, sabe que o desenvolvimento dos personagens não é um dos pontos mais fortes nessas histórias, com exceção da HQ “Batman: A Guerra da Secessão” (Batman – The Blue, The Grey, And The Bat – 1992), porém aqui o grande DeMatteis acertou a mão no roteiro.

A “fusão” realizada entre Clark Kent com Bruce Wayne consegue deixar bem visíveis os principais aspectos da personalidade de cada um, formando um novo ser arrogante e descuidado na sua identidade civil e impetuoso e comedido em sua forma heroica, no entanto só vemos essa característica no final da história, já que durante a aventura a personalidade dele é quase como a que vimos na versão do Batman escrita pelo Frank Miller em “O Cavaleiro das Trevas”.

Já na arte temos o saudoso Luis Eduardo Barreto Ferreyra, uruguaio de nascença, que sempre apresentou um estilo prático, correto e limpo nos seus desenhos, o que garante lindas splash pages. Eduardo já fez diversas capas para edições do Superman e teve uma longa passagem pela série “Os Novos Titãs”.

Bruce redescobre seus poderes

Seu trabalho de maior sucesso foi a Graphic Novel “Lex Luthor: Biografia Não-Autorizada” (Lex Luthor: The Unauthorized Biography – 1989), com uma arte que, em certos pontos, nos remete aos traços de Dan Jurgens, principalmente nas expressões faciais dos personagens, não há como negar.

Sua versão para o Batman, principalmente em relação ao uniforme em confronto com as sombras à noite, é algo que poucos artistas atuais conseguem ter sucesso ao tentar reproduzir.

Neste novo Universo a nave do pequeno Kal-El, único sobrevivente do extinto planeta Krypton cai na Terra, não na calmaria rural de Smallville, onde seria criado pelo amável casal de fazendeiros, mas na violenta Gotham City, onde é encontrado pela bilionária família Wayne que não tinham filhos, e seu fiel mordomo Alfred Pennyworth, com isso o pequeno Kal-El recebe o nome de Bruce Wayne e é criado então sem nunca conhecer a paz de uma fazenda.

De princípio, o menino cresce rodeado do amor de seus pais e do fiel mordomo Alfred, porém isolado do resto do mundo, mesmo com essa mudança a história aqui apresentada tem suas semelhanças com o que ocorre na cronologia original do Batman.

E surge o Batman

Voltando do cinema seus pais são assassinados, diante dos olhos do jovem Bruce, pelas mãos de Joe Chill, no entanto diferente do Universo oficial, aqui a cena dos assassinatos culmina no “despertar” dos poderes latentes de Bruce, que acaba “fritando” o assassino dos seus pais com sua Visão de Calor.

Vilão revelado… O Lex-Coringa ou o Coringa-Luthor????

Depois disso o Bruce decide se exilar em sua mansão, até que uma noite um grupo de assaltantes invadem a Mansão Wayne e ali, o Bruce redescobre seus superpoderes. Após esse ataque o mordomo Alfred resolve expor para o Bruce toda a verdade sobre sua origem, para isso Alfred leva o rapaz para uma caverna sob a Mansão, onde está localizada a nave que o trouxe a Terra. A sede de justiça e a ideia de como fazê-la com as próprias mãos começa a partir da visão dos tenebrosos moradores da caverna… Os morcegos.

Neste Universo o Bruce se torna um Batman menos estratégico, porém muito mais casca grossa, já que por possuir superaudição, pode ficar sabendo de ações violentas dos criminosos de Gotham a quilômetros de distância.

E se todo herói precisa de um inimigo, nesse eterno maniqueísmo das HQ’s, aqui não é diferente, somos apresentado a um vilão que mescla os dois grandes arqui-inimigos do Superman e do Batman, um Coringa, que aqui possui a genialidade e inteligência do Lex Luthor, um símbolo único de destruição e loucura.

Mesmo ambientada no universo do Cavaleiro das Trevas, o verdadeiro mito do Homem de Aço não poderia ficar longe dele por muito tempo, pra começar temos as presenças da repórter Lois Lane e Perry White, ex-editor chefe do Planeta Diário, que após o jornal ser comprado pela LexCorp, se mudam para Gotham depois de serem contratados por Bruce Wayne para trabalharem no jornal dele.

Início da redenção

A parte que mais me atraiu nessa história é o final, onde vemos o início da transformação do Batman para Superman, o roteirista faz a Lois tornar-se a maior influência para Bruce, é ela que o lembra, depois de vê-lo cometer atos violentos como Batman, que ele é capaz de fazer muito mais pelo mundo.

Isso acaba suplantando toda aquela raiva que se criou no íntimo do pequeno Bruce ao ver a morte de seus pais, o amor da Lois funciona aqui exatamente como no Universo normal, ou seja, ela sempre será a âncora moral do Último Filho de Krypton, ascendendo assim a esperança e inspiração para toda a humanidade.

Infelizmente o que faltou, para mim, neste conto foi a participação de outros coadjuvantes que fizeram parte do universo do Batman, sentir falta de ver o Comissário Jim Gordon, a Selina Kyle e uma maior participação do mordomo Alfred Pennyworth e de mais uns metahumanos do Universo DC.

Assumindo o Manto de Superman

Você pode gostar...